A situação dos
recursos hídricos no Brasil é crítica.
O país tem oito
por cento de toda água doce do planeta, mas seus mananciais estão ameaçados
pelo esgoto sem tratamento, pelo aumento da demanda e pelo desperdício. Um
panorama atual da questão foi traçado no Relatório Nacional sobre Gerenciamento
da Água no Brasil, recém-elaborado pelos professores Carlos Eduardo Tucci, da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Oscar Cordeiro, da
Universidade de Brasília (UnB), e Ivanildo Hespanhol, da Universidade de São
Paulo (USP).
Nem mesmo os aquíferos (reservas subterrâneas de água) estão protegidos.
Fossas, indústrias e pólos petroquímicos são os principais responsáveis pela
poluição desses mananciais. Em Recife, os aquíferos estão em processo de
salinização. Para fugir do racionamento, famílias de classe média que moram na
região litorânea da cidade cavam poços para retirar água das reservas
subterrâneas. Com o uso contínuo, a tendência é que a água do mar se infiltre
nos poços e inviabilize seu consumo.
O racionamento é uma realidade cada vez mais presente: cerca de cinco milhões
de paulistanos convivem com ele hoje. O aumento da demanda tende a agravar a
situação. Metrópoles com mais de um milhão de habitantes crescem 0,9% por ano,
e a população de cidades de 100 a 500 mil habitantes aumenta anualmente 4,8%.
Além disso, é alta a percentagem de desperdício na distribuição de água no
país. Cerca de 39,6% do líquido é perdido em vazamentos subterrâneos ou em
ligações clandestinas.
Desde 1997, uma lei brasileira permite a cobrança pelo uso da água. Hoje, o
consumidor paga apenas o tratamento e a distribuição, recebendo o líquido de
graça. A medida, já praticada em países como França e Estados Unidos, pretende
diminuir o consumo e promover o uso consciente dos recursos hídricos.
"Nesses países, a cobrança surtiu efeito. Mas será inócua se não houver
medidas de esclarecimento da população e conscientização ambiental",
afirma Cordeiro. Atualmente, apenas o Ceará cobra por esse recurso: as
indústrias desse estado pagam pela água que consomem, que não passa por nenhuma
forma de tratamento.
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